quarta-feira, 19 de julho de 2017

Menino d’Africa.

Amélia Luz

Menino, cadê a bola? O campinho de futebol,
a pipa empinado sonhos, o céu azul, a passarada,
a alegria da molecada solta nas estradas?
Menino, cadê o rio? O banho com a meninada,
o mergulho, a fieira de peixes, a algazarra das tardes quentes?
Menino, cadê a flauta de bambu entalhado,
Onde entoavas as primeiras notas musicais?
E a perna-de-pau que o fazia crescer brincando de adulto?
O  cavalinho de sabugo, os boizinhos de chuchu,
as gaiolas, as arapucas, o canário grande sempre a cantar?
E a escola menino? A alegria da escola?
As letras, as primeiras escritas, as gravuras,
o alfabeto e a leitura, a vida descortinando mundos?
Tu a soletrar o futuro da tua terra!
Ah... Menino d’Africa, não precisas nem dizer,
das correntes, das tristezas, da fome,
das febres e do abandono cruel,
dos destinos trágicos dos seres,
que a tua raça suporta nos ombros, sem vergar.
Menino-irmão, eu estou do lado de cá do oceano,
clamando pela justiça para que me possas ouvir
no teu silêncio que tanto me incomoda!
Não deixes que a morte te surpreenda
e te leve em sua rede prisioneira!
Alguma coisa falta aos meninos da tua terra...
O sonho, a esperança, o sorriso, a crença maior
de poder viver em paz e fartura,
mesmo que seja ao fundo do teu casebre de barro
 na tua África cabisbaixa e triste,
 tão explorada pela ganância do homem branco!
A pipa que tu empinas levará aos céus
O teu clamor, o teu desespero, a tua súplica.

Do trono o Altíssimo por ti estará a velar, coragem!



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