terça-feira, 14 de julho de 2015

Patrimônio Universal
Amélia Luz.

Tudo pelo poder do dinheiro!
A aposta, o prêmio, a loto,
a conquista , a (in)justiça social
ou o pão nosso de cada dia.
A aposta, o prêmio, a loto,
 ou o fiel bilhete de jogo de bicho!
Cheques, ordens de pagamento,
bancos, clientes de ouro ou de lata.
Notas, moedas, documentos, letras...
Enfrentam-se filas, sorrindo,
se o alvo for o certeiro dinheiro!
Pagar, emprestar, render, poupar,
sonegar, enganar o leão
ou sair pela contramão, investindo, gastando
ou até mesmo rasgando dinheiro.
Vive-se dele e por ele. Que agonia!!!
Ser consumista ou ser pão-duro eis a questão!
Assinamos ponto, batemos cartão todo dia,
pelo pagamento, pelo dinheiro!
Simpático, cobiçado, centro de discussões e debates,
por ele torres-gêmeas esfarelam
países são bombardeados
impérios são discutidos em ioruba, javanês, chinês
falando-se sempre a mesma língua ianque,
“MONEY...MONEY...MONEY” !
A suposta felicidade vem com ele,
enterrado no quintal, no baú de tesouros,
no pé de meia ou debaixo do colchão.
A transitoriedade do homem e a durabilidade do dinheiro
na história da humanidade atravessando os séculos...
Os novos valores, os massacres, as guerras,
o mundo em ordinal: países de primeiro, segundo,
terceiro, quarto, quinto mundo, etc. e tal...
Emergente, sobrevivente,
no comando desse espetáculo global,

ELE, o dinheiro, patrimônio universal.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

AMÉLIA MARCIONILA RAPOSO DA LUZ


Amélia Marcionila Raposo da Luz nasceu em 30 de março de 1945 em Pirapetinga, Zona da Mata, Minas Gerais. Filha de Luíza Raposo da Luz e Odilon Mendes da Luz teve dois filhos, Fábio, falecido e a advogada Wilmary que trabalha na área jurídica do Estado do Rio de Janeiro. Da família do pai herdou a sensibilidade. Todos eles eram instrumentistas, dedicados à música. Desde muito cedo mostrou interesse pelas letras, dedicando-se aos estudos e destacando-se sempre na escola com suas produções de textos.



É formada em Pedagogia, Administração Escolar e Magistério, Orientação Educacional e Pós graduação em Psicopedagogia na Escola, pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Prof. Nair fortes Abu Mehry – Além Paraíba/MG. Concluiu Pós graduação em Planejamento Educacional pela Universo – Faculdade   Salgado de Oliveira, Niterói/Rj. Formou-se também em Comunicação e Expressão em Língua Portuguesa e Literatura pelo Colégio de Pádua, Santo Antônio de Pádua/RJ.



Foi professora da SEE do Estado do Rio de Janeiro aposentando-se com trinta anos de profissão e professora da SEE do Estado de Minas Gerais, aposentando-se com vinte e cinco anos de regência de turma. Ministrando a Língua Portuguesa adquiriu intimidade com os textos fazendo da sala de aula sua fonte de experiências. Descobriu o valor da língua pátria na profissão que com dedicação e respeito exerceu.



Fundou ao lado de amigos o Centro Cultural de Pirapetinga sempre se dedicando às suas atividades. Participa de projetos e eventos culturais da Casa de Cultura Geralda Bifano Jubileu, ambos em sua terra natal, dedicando-se com especial interesse às suas raízes culturais.
É Membro Efetivo da APLAC – Academia Paduana de Letras Artes e Ciências – Santo Antônio de Pádua/RJ, Membro Correspondente da ACL – Academia Cachoeirense de Letras – Cachoeiro de Itapemirim/ES, Membro Correspondente da Academia Rio Cidade Maravilhosa – Rio de Janeiro, Membro Correspondente da Academia friburguense de Letras – Nova Friburgo/RJ, Membro correspondente da Academia Brasileira de Poesia – Casa de Raul de Leoni – Petrópolis/RJ, Membro Correspondente da Academia Ferroviarista de letras – Rio de Janeiro/RJ, Decana e Delegada Regional do Clube dos Escritores de Piracicaba/SP, Delegada da UBT em Pirapetinga/MG, Membro da Fundação del’Secchi – Vassouras/RJ, Membro Correspondente da ALB-Mariana/MG, Embaixadora do Círculo Universal dos Embaixadores da Paz – Suisse/France, Membro Efetivo do InBrasCI – Instituto brasileiro das Culturas Internacionais/Mariana/MG e está em processo de ligação com a REBRA – Rede de Escritores Brasileiros.



Foi contemplada pela Prefeitura Municipal de Pirapetinga com a Comenda Ana Luíza de Assis Silveira e condecorada com a Medalha Peixe Branco, recebendo do Centro Cultural de Pirapetinga - Patrono Antônio Jubileu, o Certificado de Agente Cultural. Recebeu da Câmara de Vereadores de Santo Antônio de Pádua Moção de Aplauso pelos serviços prestados à educação no município.
Participa de concursos literários em vários estados do Brasil e exterior, sendo premiada em todas as categorias literárias. Recebeu diversas medalhas, troféus, condecorações, certificados e diplomas pelas classificações obtidas nos referidos concursos. Acumula premiações e publicações em várias antologias literárias, e-books, anuário de escritores, agendas literárias e periódicos. É colunista do Jornal Papiro, coluna poética Ecos de Minas, Santos/SP. Tem publicado um livro solo de poesias “Pousos e Decolagens. Prefere suas publicações em antologias por conhecer e divulgar outros autores nos seus rastros literários.
Foi premiada na X e XI Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro e na XVII Bienal Internacional do Livro de São Paulo recebendo diplomas e publicações de textos de sua autoria. Foi classificada pelo Festival de Poesia Falada de Campos dos Goytacazes/RJ com lançamento na XIII Bienal Internacional do Livro do Rio de janeiro, pela Fundação Jornalista Oswaldo Lima.



A Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias concedeu-lhe por duas vezes Medalha de Ouro e publicação de textos de sua autoria na revista Acadêmica Brasília – Rio de Janeiro. Foi classificada como finalista na APPERJ – Associação dos Poetas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, interpretando seu poema no auditório Machado de Assis na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Participou também da Antologia “Vozes na Paisagem” – Editora Galo Branco com lançamento na Academia Brasileira de Letras/2011/Rio de Janeiro/RJ e da Antologia Lumens recebendo a Medalha Lumens/2011/ em Mariana/MG.
Classificada pela ABRACI, interpretou texto de sua autoria, sendo premiada em cerimônia na Academia Brasileira de Letras, auditório Machado de Assis no Petit Trianon do Rio de Janeiro.



Participou do IV, V, VI e VII- Belô Poético realização Rogério Salgado em Belo Horizonte/MG sendo publicada como co-autora em Poetas EM/CENA 2, 3, 4 e 5. Publicada na Antologia Del’Secchi de 2006 a 2009. Foi publicada pelo Centro de Estudos Poéticos de Madrid/Espanha, participa da II, III e IV Antologias de Poetas Lusófonos de Leiria/Portugal. Pela Accademia Il Convívio, no Concurso de Poesia, Prosa e Arte Figurativa recebeu “Segnalazione di Mérito” com publicação em duas antologias, recebeu segundo lugar no Prêmio Fra Urbano Della Motta, com o tema Natal, recebendo publicação de seu texto em antologia, recebeu classificação – Terza Classificata – no Premio “Poesia, prosa e Arti figurative – Il Convivio 2011 e Primo Premio Assoluto em Poesia em Português em outubro de 2012 -  Castiglione di Sicília/Itália. “La Lanterna Bianca” concedeu-lhe a classificação de Finalista no Concorso di Diari – XeXI Ediziones – Motta Camastra/2011/2012, recebeu o Premio Letterario Internazionale – Nova Sociale - “Nocera Poesia” Sétima Edizione-2010 – Salerno/Itália,  e outros que fazem parte do seu acervo.


Mineira extremada dedica sua obra à sua mineiridade. Teve o privilégio de nascer em Minas enaltecendo com muitos dos seus textos a sua terra que tanto ama e reverencia. Com delicadeza de sentimentos vai tecendo a sua vida na sua oficina de versos, onde encontra significado para prosseguir sempre nos caminhos da vida.

sábado, 4 de julho de 2015

Conto: Um “Causo” de Mineiro.

Pseudônimo: Capitu


                              Seu Zezinho era comerciante próspero, conhecido por aquelas bandas como homem leal, fiel e de palavra. Comprava e vendia o que quisesse com apenas um fio da sua barba como garantia. Casado, pai de quatro filhos, curtia a vida folgado. A mulher era o pé-de-boi e o pau-para-toda obra da família. Mulata forte, não hesitava em arregaçar as mangas e enfrentar o pesado. Além do mais, no armazém de “secos e molhados” vendia-se de tudo. Ela se gabava em dizer que tudo era feito por ela, dos bolos e cocadas aos chouriços e fressuras.
                               O dia começava cedo. Em trinta e oito anos de casamento realizavam as mesmas atividades diárias sem qualquer alteração. Ela passava e servia o café, enquanto ele, já de banho tomado lia o jornal para ficar por dentro das notícias do futebol e do país. Ela passava até a manteiga no pão, servia o leite quentinho, à gosto, depois de já ter colocado sobre a cama a roupa passada, o colete, as dobraduras das camisas de cambraia e os suspensórios que ele não dispensava. As botas brilhavam com o esforço da flanela que ela fazia questão de lustrar, no capricho.
                             - Marido meu tem que andar alinhado, repetia sempre! Com ela, não se importava muito não. Lenço na cabeça, sem qualquer vaidade, cara lavada, sem pintura. Não tinha tempo para essas coisas e também não estranhava pois tinha sido criada no batente. Era uma mulher quase perfeita mas só tinha um defeito, pão-pão, queijo-queijo, tudo com ela tinha que ser direitinho pois caso se zangasse era capaz de estraçalhar um. Era de meter medo depois que enfurecia.
                                Seu Zezinho ficava no balcão só de enfeite esperando as freguesas para paquerar. Gostava de longa prosa com as mulheres do arraial quando tinha a oportunidade de contar as façanhas das suas pescarias, seu “hobby” predileto.
                                Comércio movimentado, armazém cheio, mesmo assim, depois de umas “caninhas” não se furtava ao prazer das pescarias que estavam ficando cada vez mais freqüentes e demoradas. Sábado bravo, fregueses chegando das fazendas para serem atendidos e lá ia o Seu Zezinho deixando a Dona Lindinha sozinha, abarrotada de serviço! Não havia sol, nem chuva que o cercasse.
                                  Foi então que a Dona Lindinha começou a desconfiar. Apesar do movimento do dia, por volta das três horas da tarde, depois de feito farto lanche, palitinho no canto da boca, água de cheiro que perfumava a rua toda, lá ia o Seu Zezinho, todo arrumado, colocar os anzóis na velha Brasília branca. Seguia calmo, assobiando estrada afora, como um passarinho solto.
                                 Lá pelas tantas retornou, naquele dia, sobrevivente das orgias sexuais ao ar livre, com um resto de orgasmo no olhar e um sorriso de felicidade nos lábios. Dona Lindinha, astuta, perguntou:
                                  -Zezim, meu fio, e os peixe??? Num pescô nada não? Tô inté isperano pra frita uns pra janta!
                                  - Ô muié, tá ruim pra peixe! Acabei foi dano bain nas minhoca a                                                                                                                                                                                              tarde intera e num fisguei nem um lambari pra lembrança!
                             - Tomem pudera home de Deus! Deis da semana passada eu cortei os anzol e amarrei as linha da tua vara na tua poça vergonha e ocê, pescano todo dia nem seque se apercebeu!!! Só se ôce tá pescano é piranha de dois pé e isso nóís vai resorvê é agora, seu véio safado e desavergonhado! Era só copo e garrafa de aguardente voando para todo lado na maior quebraria, que nem polícia cercava.                       
                                       Pegando enfurecida  a carabina saiu dando tiros e  mais tiros,chamando a atenção de toda a vizinhança que só via o Seu Zezinho correndo e gritando como um desesperado
                                     - Socorro, socorro, me ajudem! A Lindinha vai me matar! E toda a cidade que já sabia do antigo hábito de pescaria do Seu Zezinho foi só fechando as janelas deixando o pobre no maior aperto. No outro dia, o saldo foi o seguinte, o rosto todo machucado, braço na tipóia, olho roxo provocado por  um soco certeiro e banhos de arnica para aliviar as dores do coitado.
                                    Dona Lindinha continuou na sua vidinha difícil, com seu maridinho do lado, mas de uma coisa ela tinha certeza! Pescaria? Só se fosse com ela!


NADA


Amélia Luz

                          
Martelo cego
o meu ego
a ninguém me apego
e a escravidão renego!
Despetalo a flor,
de mim sou caçador,
o que tenho a propor?
Sou nada, arco-íris sem cor!
Martelo o prego com coragem
na parede que não existe
penduro um quadro
que vazio já não tem imagem...
Tento limites transpor
superando a dor
nessa vida quixotesca
de Sanchos e Rocinantes...
Luto contra o imaginário
perdida que estou
entre moinhos de vento
em noites de tempestades...
Jogo lanças no vazio e
sem querer mato os meus sonhos
apagando o pavio!
Na verdade a vida é tudo
que se transfigura em nada...

sexta-feira, 3 de julho de 2015

No âmbito da "Semana Brasileira Lítero-Cultural" a ALA recebe amanhã, às 17h00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, em Cascais, uma comitiva de poetas aldravistas da qual fazem parte a Drª. Andreia Donadon Leal, o Dr. Gilberto Madeira Peixoto, o Dr. José Luiz Foureaux de Souza Junior, a Dra. Cecy Barbosa Campos e a Dra. Amélia Marcionila Raposo da Luz. Depois, às 18h00 decorrerá a sessão solene de tomada de posse na sede da ALA, no Monte Estoril, depois da qual decorrerá o jantar no Restaurante “Tertúlia do Monte”. Uma oportunidade única para consolidar as excelentes relações culturais entre Portugal e o Brasil! 

TV Pádua entrevista professora Amélia Luz 


quarta-feira, 1 de julho de 2015



História de João, o Rosa.

Amélia Luz

O João de quem falo é um João diferente,
inquieto, irreverente, brincalhão com as palavras...
É o João do Sertão, aquele que deixou o bisturi
a Diplomacia, o Itamarati,
montou cavalo e seguiu as trilhas do buriti!
Margeou o São Francisco
atravessou a nado o Urucuia
encontrou um bando de jagunços
contou muitas histórias nas rodas de prosa
ao lado de Riobaldo e Alaripe...
Brigou de faca e arma de fogo,
venceu o Liso do Sussuarão
descobriu um mundo sem fim,
na identidade do jagunço Reinaldo!
Sertão, ah! Sertão das Gerais...
Veredas e enigmas, sopro de brisa,
perplexidade natural redesenhando a vida!
O brilho do sol, a estrada, o pó,
a solidão diante da amplidão da terra...
Urutu-Branco, chefe batizado,
destemido, vestindo o seu nome de guerra...
Espanto, emboscada? Reinaldo morto?
Cilada... Belos seios de mulher, Diadorim,
escondiam-se na rudeza do jagunço
explicando todo o seu amor - mistério...
Épico, lírico, real? “nonada,
existe é o homem humano. Travessia.”
João foi um gênio encantado,
foi um gênio feiticeiro.
“Moço!: Deus é paciência. O contrário é o diabo.”
ERA  DOMINGO

Amélia Luz – Pirapetinga/Minas Gerais

Era domingo de festa,
peguei o meu tamanco faceira
pus uma flor nos cabelos
coloquei meu vestido vermelho
perfumei-me com água de cheiro
passei “rouge” e pó de arroz.
Pintei os lábios de carmim
debrucei na janela da vida
olhando a estrada comprida
e  tu nem te lembraste de mim!
Enfeitei de sonhos o meu coração
escrevi teu nome na palma da mão
esperei que chegasses de surpresa
que me tomasses como tua presa
e me levasses no teu cavalo alado...
Enchi a alma de grande alegria
viajando na fantasia
entregando-te meu amor perfeito...
A manhã passou em disparada
o meio-dia chegou devagar
a tarde passou mais sofrida,
arrastada nas dores da vida.
Entristecida,  pus-me então a chorar...
Senti explodir o coração
Gritei o teu nome sem resposta
na gruta negra da solidão...
Veio a noite misteriosa
escurecendo aquele nosso caminho.
As lágrimas vieram em abundância
tirei a flor, já murcha, dos cabelos,
pendurei no cabide meu vestido vermelho
joguei fora os meus sonhos amarrotados...
Assumi o meu pesadelo sem escolha
olhei-me no espelho da sala
transportei-me para bem longe
para o vale distante da imaginação!
Procurei o teu rosto amado
coloquei-o no meu peito inflamado
e descobri no meu esforço de viver
o grosso calibre que me vazara em emboscada,
deixando-me assim, como um pássaro ferido

atirado ao chão, figura-cartaz de tão triste solidão!
 A MÃE DOS MÚSICOS.

Amélia Luz


Nesse seu olhar de silêncio
Convivem todos os tempos...
A árdua luta pela vida
Os filhos todos, os músicos,
A animada escola de música,
Os instrumentos, os ensaios,
Ali, na sua sala de visitas...
A “Banda Dois de Fevereiro,”
Os acordes, as partituras,
O exigente Maestro Zé Elias...
O fogão ardente, inclemente,
Gritando tão impaciente,
Para saciar tantas bocas famintas,
Com a força do teu braço!
E não lhe faltava o meigo sorriso,
O licor tão colorido, servido,
Em taças cristalinas, com sabor de frutas...
Eu, menina, a admirá-la,
Entre o crochê e os “causos” intermináveis,
Da varanda da casa da Rua de São Bento!
O pó-de-arroz na face conservada,
Na vaidade  que a embelezava...
Um vento forte levou-a de repente...
Naquele dia, o carrilhão da sala silenciou,
Junto com o seu coração que seguiu viagem.
A “mãe dos músicos” partiu para sempre
Em descanso misterioso...
Tocando fúnebre a ”Eterna Saudade”
 A banda a acompanhou até a última despedida!!!


História de vida: homenagem para minha avó paterna MARCIONILA BRAGA DA LUZ, que prestou inestimáveis serviços para a arte musical em Pirapetinga/MG..
MÁSCARAS

Amélia Luz


No novelo da vida
Encontrei um estranho mascarado
Que me olhou com profundidade
Com o seu olhar de enfado...
Retirei sua máscara fria
Encontrei com desgosto
Um conhecido rosto que chorava!
Com cuidado, as suas feridas eu curei,
Banhando-as com as lágrimas milagrosas
De um imenso amor reprimido...
E naquele rosto amargurado,
De repente, uma nova imagem surgiu.
Conscientes ou inconscientes
Agarramos juntas nossas velhas ilusões
Num ato maduro, resgatando um tempo!
Abandonei o que era e o que tinha,
Nada mais me importava tanto!
Colocamos, fingidores, novas caras,
Sobre nossos rostos maltratados!
Ressuscitamos sonhos submersos
Importantes para nossa identidade afetiva.
Hoje, no bloco dos sujos,
Saímos livres, fantoches inseparáveis,
Ele de Pierrô, eu de Colombina,
Com os corações fantasiados na folia da vida.
Sem confetes e sem serpentinas,
Sinto sempre quase menina,
Viajo de olhos vendados nos seus braços puros
Que me levam tão seguros,
Por caminhos de paz antes desconhecidos!

 A Granada e o Tempo

Amélia Luz

Abre a tua mão fechada em cofre
Expõe tuas humanas fraquezas...
Deixa então sobre a mesa,
Entre sonhos perdidos
A granada destrutiva
Que explode em silêncio,
Dentro de ti, a cada momento,
Levando tudo a tua volta.
Vai, cuida do teu tempo,
Que não é teu somente
Na corrente de um mundo,
Que não é fixo é ciranda
É represa e é fluxo.
Toma a semente da liberdade
Caminha, anda, comanda,
Tua luta é ferrenha,
Mostra a tua lealdade.
Planta, planta viva,
A semente da poesia,
Que a ti foi confiada.
Ela reproduzirá a tua história
Nos segredos do santuário
Do teu coração de menina...
Sob teus pés, andarilhos e nus,
Há campos em flor que esperam
A colheita em abundância.
E teus braços fortes se encherão
De fartos molhos de paz...
DANÇA  COM  TEMPO

Amélia Luz




Amanheci em alegre alvorada
Cantei cirandas de roda
Pulei amarelinha
Fui bruxa, fada e rainha...
Acordei assustada ao meio do dia!
Sorvi da taça da solidão
Bebi o fel da razão
Girei mundos profundos
Teci momentos de dor
Nas luas de março
Onde contava meus janeiros,
Descobrindo assim, a maturidade!
Hoje crepúsculo sou
Fixa na mesma janela...
Não percebi o tempo-punhal, fatal,

Que sorrateiro, me levava! 
DOCE  OBSESSÃO


Amélia Luz



Na algazarra dos pensamentos
Dona de tesouros incontáveis
Saio do meu isolamento,
Escancaro os olhos indagantes
Povoando a minha mente
Com idéias em abundância.
Escrevo versos, escrevo!
Meu baú é pequeno
Para caber nele todas as palavras
Que guardo como relíquias
Desde tão frágil menina.
Aprendi bem cedo a lidar com as letras,
Em doce obsessão afinamos e desafinamos
Nossos sentimentos de estimação.
Brinco com elas todos os dias
Já é obrigação, sacerdócio, missão!
Em fluência elas estão na minha boca
Espalhadas no meu colo
Voando à frente dos meus olhos
Ou no côncavo das minhas mãos,
Sem falar nas que estão escondidas
No fundo do meu coração.
A vida é um precioso livro de histórias
Aonde elas vêm aos turbilhões
Na tecedura dos textos...
Nesse jogo de gozo e de memória
Vejo-me sempre a lidar com elas
Livres, soltas, tagarelas.
Assim então, quem sou eu afinal?
Sou palavreira recriando a vida, sou poeta...