segunda-feira, 31 de julho de 2017




PATCH  WORK
Amélia Luz


Entrei no mercado da esquina
Fiquei assustado com tantos importados.
Multinacionais fatais fazendo sem pena
Que cada vez mais o Brasil fique fora de cena!
Em “portinglês” ilude-se o freguês
Que desavisado sai sempre enrolado...
Eram tantos estrangeiros e me senti forasteiro
Embora no meu berço natal servindo de mero canal
Para escoar mercadorias, (de fora)...
“Made in Brazil”, “Made in China” e agora???
Sorriso “Close Up”, escovado a “Tek”,
Caprichado a fio dental “Johnson & Johnson”.
Barbeado com “Gillette” espumado com “Ravor for Man” 
Penteado com “Brylcreeam” miro-me no espelho,
Desodorizado a “Wild Man”!
Que estranho tupiniquim sul americano,
Cara de “eagle”, alma de tucano, enfim!
Passo “Nugget” no cromo italiano,
Tomo um “drink” sabor “Prozac”,
Saio “Levis”, em jeans americano...
O coração, endurecido a “Durepoxi”
Grita pela minha nacionalidade:”Help”!!!
Que o Brasil seja mais brasileiro
Adotando nosso modo faceiro de fazer a vida!
Despeço-me da moça do balcão.
Para minha surpresa, ela me estende a mão,
E me diz com simpatia: “Good Bye! Good Bye”!

Resmungo prontamente, na minha soberania: “All Right".
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Precisamos valorizar a Língua Portuguesa!
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terça-feira, 25 de julho de 2017


LÍNGUA  DOCE
Amélia Luz - Pirapetinga/MG

Países cujo idioma nacional é o Português
Fernando Pessoa














Adoço a minha língua
com a língua doce de Camões,
trabalhando na minha oficina de versos
a cada minuto, a cada dia...
Trabalhar a língua lusa é mistério
é sacerdócio, é missão, é magia!
Externo a mais profunda alegria
contagiando o leitor com o meu riso
ou com a crueza da minha dor,
transmitindo os meus sentimentos,
carregados de verdades e incertezas...
Disputo o poder de seduzir o outro,
pela simples poesia, minha fantasia, 
minha língua, minha canção, minha folia!
Liberto-me vagante: sou poeta,
sim, da língua lusa sou poeta...
Missionário da emoção, vadio,
semeio letras nas estrelas!
 CONQUISTAS DE PORTUGAL
Amélia Luz
Marquês de Pombal

E...Portugal, nosso "avozinho",
ALA - Academia de Letras e Artes de Portugal - Monte Estoril
tão pequenino, tão pequenino,
ambicioso, de portas abertas para o mar...
Com sede de domínio de terras
deixou suas pegadas
em nossa história
e em tantos outros lugares do mundo...
Uma bússola
uma embarcação
um roteiro, muita coragem
e o mar a bravio a conquistar...
Assim as Grandes Navegações
marcaram a história da Península Ibérica
e das terras onde as botas portuguesas
marcaram com firmeza
a sua chegada heroica. (Amélia Luz)

Torre de Belém - Lisboa/PT







    Obras admiráveis:

                      Portugal construiu cerca de 800 fortalezas e fortins fora da sua casa mãe, criando o Mundo Luso, seu Protectorado.*
                        Desistam de considerar Portugal apenas um cantinho à beira da Europa. Nunca o foi!



A ALMA PORTUGUESA É TÃO GRANDE QUE NÃO CABE NA EUROPA ! 
Portal CEN - Abrindo fronteiras.


Amélia Luz – Pirapetinga/MG/Brasil


Com o CEN celebramos a união!
Duas taças de tinto sobre a mesa
uma bacalhoada portuguesa
pastéis de Belém de sobremesa.
Um bandolim, um solo gemido,
um fado sentido das ruelas de Lisboa
ou um antigo “Cantar de amigo”
entoado pelo rei trovador D. Sancho I ...
Estamos em festa de letras e palavras,
banquete de escritores que a poesia lavra
em jactância no silêncio das noites.
Pudesse Camões desvendar
os segredos do tempo,
vislumbrar a modernidade
e os malabarismos verbais da internet,
dominando terras sem caravelas
e sem os perigos dos mares que desbravava.
Celebraria conosco mais esta epopéia
literária que o CEN nos oferece
ao espalhar o seu legado poético
aos quatro cantos do mundo.
Formiga mágico o nosso falar
registra a grandeza milenar
da Língua Portuguesa, nosso elo,

nossa raiz, nossa maior riqueza...


segunda-feira, 24 de julho de 2017



(DEMO)CRACIA
Amélia Luz

Empesteados poderes
circulavam arrogantes
nos corredores do palácio.
Homens armados
com espada e  ganância
violentavam bebendo o sangue
dos cegos em taças cristalinas,
num brinde às forças da ignorância.
Imprestáveis leis antiquadas
apodreciam mudas nas fundas gavetas
que escondiam armadilhas e emaranhas .
No trono, vestido de fraque,
um homem estranho sorri em silêncio
celebrando mais uma falsa vitória
vinda das urnas analfabetas
que deixavam nódoas violentas,
na história daquele império fracassado
que continuava rastejando nas trilhas do poder...

De olhos vendados a Justiça tentava vislumbrar
vestígios, estrategicamente ocultos.
Amarga corrupção que nos destrói.


E NEM AS PEDRAS CLAMARAM...
ESTRADA REAL DAS MINAS GERAIS

Amélia Luz – Pirapetinga/MG
 
Vive e pulsa fortemente
No coração do brasileiro.
Recebeu procissões de cobiçosos
Na lida da busca do ouro.
A ambição desenfreada por ela transitou
Luzindo entre auroras e crepúsculos
No tilintar solene dos sinos
Das tropas aventureiras.
O gosto das riquezas das minas
Aguçou a fome dos ambiciosos
Na ganância da Corte Portuguesa
Que desovava pelo seu chão
Seus sonhos de enriquecimento.
Desbravada pela coragem dos Bandeirantes
Nela ouve-se ainda o sonolento trilhar das mulas 
Carregando o mais rico mineral.
Em seus novos e velhos caminhos
Os cascos dos muares sulcaram seus leitos
Entre serras e terras infindas
Panorama banhado de suor escravo.
A bota portuguesa deixou-lhe pegadas eternas
Em mistérios vividos ao longo das suas veredas.
Roteiro obrigatório o ouro dali não podia se afastar
Pelo contrabando criminoso dos audaciosos.
Continuamos andando com os nossos pés nus
Na doirada Estrada Real resguardamos um valioso tesouro

Enterrado em suas rugas, o passado!
 BICHO MINEIRO

Amélia Luz


Mineiro é bicho manso,
Domesticado, bicho de paz.
Depois de um dedo de prosa
Aquieta, acalma o tom da voz,
Cofia pensativo o bigode,
Contando causos e se satisfaz!
Sossegado, pausado,
Fica alegre, espicha a conversa,
Sem muita pressa,
Buscando argumentos distantes
Para a seqüência exata da história.
Mineiro é bicho manso,
Bicho de muita paz,
Prudente, segue adiante, confiante,
Sem ganância ou maldade,
Apostando sempre na sua lealdade...
Marca a sua vida, curiosamente,
Pela sua aguçada astúcia,
Desconfiado e temeroso,
Ao lidar com o desconhecido.
Preso pelas montanhas,
Misteriosas de Minas,
Garimpa ouro e acha a liberdade
No gene hereditário dos inconfidentes.
Conquista a quietude natural
No exercício costumeiro da observação.
Mineiro é bicho manso, bicho de paz,
Fala em silêncio com o olhar
Descobre minúcias com o coração
Sem nunca deixar se enganar.
É um fingidor dissimulado,
É um poeta inspirado,
É sobretudo, humilde e corajoso,
Dono das suas próprias convicções...
Na verdade, o mineiro, é como Drummond,

Espia por cima das montanhas...



UMA  CERTA  PATRÍCIA

Amélia Luz

Patrícia é pura notícia
Com seus olhos acesos
Buscando sempre a novidade!
Passa pela vida
Desassossegada
Pois é vitima, coitada,
Do vírus da criatividade!
Patrícia não anda, nem corre,
Patrícia voa, voa
Nas asas da imaginação...
Sem malícia, lá vai Patrícia
Brincando com as suas idéias
Escrava dos seus pensamentos
Seu vício, seu maior tormento!
A vida é uma odisséia
Na assembléia das letras
E das imagens geniais...
Patrícia ao cansaço não se entrega,
Parece ter alma de aço
E coragem de ferro.
Com seus sonhos navega
Embriagada pela compulsão
Sempre em abstração!
Criar! Criar! Criar do nada!

É que Patrícia tem mão de carícia.
Ativa, participativa,
Admira a vida da janela mágica
Dos desassossegados!

De: Amélia Luz

Para:  Patrícia Robadey.






HOMENAGEM A MACHADO DE ASSIS

O   BRUXO
Amélia Luz

Se não me engano ao passar pela Rua Cosme Velho
encontrei um bruxo de bigodes na janela
imaginando suas muitas fantasias.
A seu lado Carolina  admirava as estrelas
ensaiando seus primeiros versos..
O velho resmungou aos seus ouvidos
algumas palavras de ternura e docemente
 abraçaram-se  como se quisessem comungar sentimentos.
Falavam de Bentinho e Capitu dialogando tramas
enquanto Dom Casmurro  em enigmático silêncio
tentava compreender aquele famoso  triângulo
doloroso (ou amoroso) que criara do nada.
Traição? Seria verdadeira a traição e os olhares cruzados
entre a sedutora mulher e o homem cobiçado?
Drama de estranha nudez na violência da suspeita!
Sentaram-se à mesa, apenas um pão para todos?
Ela buscou no fundo da memória uma oração
que aprendera para espantar pesadas tentações.
Então, passaram-se as máscaras
e de humanos comuns todos se mascararam...
Entre reis, valetes e rainhas saíram pela avenida
misturando-se à plebe de misérias e sofrimentos.
E acabaram por mastigar aquele mesmo

indesejado e amargo pão.








AUTOPSICOGRAFIA (in Poemas Escolhidos - O Globo)


Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só as que eles não tem.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.



“O poeta é um fingidor”

Amélia Luz – Pirapetinga/MG

Disse-me Pessoa:
“O poeta é um fingidor”.
Gargalha se perde um amor
embriaga-se de versos sentidos e
sua máscara não mostra
a angústia sofrida
enganado-se no espelho da vida!
Se sou poeta fingidor, não sei...
Sou um fado triste nas ruelas
antigas da Mouraria
percorrendo trôpego
as trilhas da desilusão
guiado pela dor da sua ausência.
Há uma indefinição no ar
um cansaço de um passado que pesa
num presente que teima em me assustar...
Sim, eu serei o poeta fingidor
ou o fado triste, no canto dos amores perdidos?
Soluço silêncios nas horas que gotejam
amargas anunciando as madrugadas...
Resta-me somente um bandolim, uma canção
e um cálice de Vinho do Porto

para brindar a sua despedida!
SÉRIE HOMENAGENS

O olhar de Teresa

Amélia Luz


Num olhar de mulher

A palavra caridade

Acaricia rostos e espantos

Tristezas e misérias humanas.
.
Teresa segue silenciosa

A trilha íngreme dos oprimidos...

Com a dignidade dos fortes

Teresa de Calcutá nasceu para o labor

Nasceu para amparar, consolar,

Enxugar prantos nas horas de desencantos!

Sem fronteiras, seu amor ao próximo,

Busca  oásis em terras áridas

Onde o sofrimento teima em maltratar.

Sua determinação não muda

Passeia descalça nos abismos dos necessitados.

Uma frágil figura que não aceita exclusões

Que leva sobre seus ombros cansados

Toda a dor e sofrimento dos desvalidos.

Eis a mulher trabalho-dedicação-renúncia!

Filha de Deus, ponte perfeita

para levar o bem aos porões da desesperança.

Até quando andará ela esmolando

Alimentando o homem faminto em busca do pão?

Certo dia o fio foi cortado: Teresa partiu leve!

Muito leve Teresa partiu.


Subiu agraciada, espalhando


luz e bondade no caminho dos abençoados!


AVESSOS E DIREITOS DA EMÍLIA
Amélia Luz – Pirapetinga/MG


Ela saiu de duas mãos negras, quase escravas,
e de um sorriso meigo num rosto de África, Nastaça!
Alguns trapos coloridos
os cabelos em algodão negro desfiado
e macela perfumada para rechear.
Assim nasceu a extravagante Emília,
muda, olhos arregalados de retrós!
Uma dose de pílula falante desembesta a falar,
autoritária, arrogante e birrenta!
Malcriada e teimosa é egoísta,
muito esperta nas suas estripulias...
Tirana e interesseira observa tudo
tão pequenina como toda boneca de pano.
Anda pelos arredores à cata de novidades
carregando a sua canastra, (seu tesouro),
cheia de bugigangas que vai recolhendo
quando nas suas muitas atrapalhadas.
Não se sabe se é gente ou boneca,
levada da breca é temida por todos
vivendo a fantasia da sua criação.
Figurinha surreal centraliza as atenções
esbanjando suas asneiras com convicção!
Suas histórias são cheias de mistérios
que vão além da imaginação...
Assim, vive a liberdade ao sabor da sorte,
Recriando a alegria da vida do folclore rural
No mundo encantado de Monteiro Lobato.


Nota da autora: Emília, na sua sabedoria, é uma das mais importantes personagens da Literatura Brasileira por isso virou figura folclórica.


SÉRIE HOMENAGENS

Edith Mercadante

Amélia Luz

Edith,coração generoso,
Cheio de ternura e bondade.
Filha de imigrantes italianos
Amava seu sangue abençoado,
Contando histórias fantásticas da família!
Com entusiasmo gostava
De ser na alma, Mercadante!
Todos a estimavam pela fineza no trato,
E se admiravam da sua lucidez
Em mais de nove décadas vividas.
Dedicou-se ao Magistério,
Professora por vocação.
Competente, educou uma geração,
Que deu bons frutos na vida...
Doou-nos muito, enriqueceu-nos,
Com o seu semblante calmo,
Sua grandiosa sabedoria
E sua natural elegância!
Hoje, para ela uma homenagem!
Não cantaremos tristezas, nem choro,
E sim, uma canção de agradecimento,
Pelo prazer da sua convivência conosco.
Saciou-nos com o seu rico manancial
Até seu último instante, equilibrada e lúcida!
Tomamos muito do seu nobre exemplo,
Respeitada pela sua dignidade,
Sua honestidade, sua firme postura!
Edith foi essência na sua existência.
Deixou-nos a meiguice do seu sorriso,
A malícia do seu bom humor,
A inteligência do seu olhar
A grandeza da sua alma nobre.
Sua poesia é recheada de singeleza
E pura inspiração.na magia das entrelinhas...
Como uma luz brilhante riscou o firmamento
E depois apagou-se aos poucos...
Assim ouviu atenta a voz divina
Que finalmente a chamava
Para a morada dos justos
Na mansão da eternidade.

Humilde, curvou-se.

quinta-feira, 20 de julho de 2017



PRÍNCIPE   DOS   POETAS

Amélia Luz


Nas trilhas paulistas
Marcadas pelas botas bandeirantes,
Surge na densa floresta
O embrião da Princesa do Oeste...
Nessa terra de perfeita harmonia
Nasce para nossa alegria,
Guilherme de Almeida, o Príncipe dos Poetas!
Seus versos de amor e de paixão
Extravasam toda a sua graça
Na força da palavra que a todos enlaça.
Na Arte Moderna deixou sua marca de protesto
Ao lado dos Modernistas retratando o manifesto.
Soldado da Revolução lutou pela Constituição
Porém suas mãos divinas não mereciam violência,
Eram mãos inspiradas que escreviam poesia
Trabalhando a rima no seu ofício de cada dia.
Os haicais em português de tamanha perfeição,
Os versos diversos, modernos ou metrificados,
Eram todos profundos e de grande agrado...
Parnasiano-simbolista, da palavra artista,
Dono de criatividade, de imagens e de fantasias...
Com primor criava incomparáveis sonetos de amor,
Em suas rimas raras e precisas na certeza do ritmo.
Bem sinto a sua alma expressa na sua obra,
Romântica, arrebatadora e feiticeira,
Capaz de encantar o leitor em sua mística pureza!
Campinas, cidade de Guilherme,
Cidade do café, de perfil progressista,
De lavouras a perder de vista,
Marcada pelo braço imigrante no cultivo do ouro verde.
Pelo trem de ferro com seu apito alvissareiro,
Leva a bucólica poesia guilhermista

Em arabescos de fumaça pelos céus do Brasil.





História de João, o Rosa.

Amélia Luz

O João de quem falo é um João diferente,
inquieto, irreverente, brincalhão com as palavras...
É o João do Sertão, aquele que deixou o bisturi
a Diplomacia, o Itamarati,
montou cavalo e seguiu as trilhas do buriti!
Margeou o São Francisco
atravessou a nado o Urucuia
encontrou um bando de jagunços
contou muitas histórias nas rodas de prosa
ao lado de Riobaldo e Alaripe...
Brigou de faca e arma de fogo,
venceu o Liso do Sussuarão
descobriu um mundo sem fim,
na identidade do jagunço Reinaldo!
Sertão, ah! Sertão das Gerais...
Veredas e enigmas, sopro de brisa,
perplexidade natural redesenhando a vida!
O brilho do sol, a estrada, o pó,
a solidão diante da amplidão da terra...
Urutu-Branco, chefe batizado,
destemido, vestindo o seu nome de guerra...
Espanto, emboscada? Reinaldo morto?
Cilada... Belos seios de mulher, Diadorim,
escondiam-se na rudeza do jagunço
explicando todo o seu amor - mistério...
Épico, lírico, real? “nonada,
existe é o homem humano. Travessia.”
João foi um gênio encantado,
foi um gênio feiticeiro.

“Moço!: Deus é paciência. O contrário é o diabo.”


MILLÔR FERNANDES



Millôr/Aldravias

Revolução
Ditadura
contramão...
Brasil
envenenado
submissão...



Millôr
seja
como
for
genialidade
superior...

Arisco
Millôr
escrevia
histórias
com
rabisco...

Rabiscando
riscando
inventando
satirizando
Millôr:
gerundiando...


subversivo
gritava
humor
engatilhando
ideias
insuperáveis



quarta-feira, 19 de julho de 2017

VICENTE DE  CARVALHO

Amélia Luz

Do antigo “Relicário”
Retirei um “Velho Tema”
De “ Poemas e Canções”,
De “Versos da Mocidade”,
Com “Páginas Soltas”,
Cheias de grande emoção,
Onde ouço a alvissareira “Voz dos Sinos”...
Com tamanha ternura a “Luizinha”
Em “Verso e Prosa”
Viaja em “Rosa, Rosa de Amor”
“Ardentias,” ‘Luzes e Fantasias”,
De um tempo perdido,
Dentro de um outro tempo,
Arte essencial que me fascina!
A alma, ora doce, ora “Selvagem”
“Fugindo do Cativeiro”,
Alcança “A Ternura do Mar”...
“Palavras ao Mar” são jogadas
Recheadas de “Cantigas Praianas”...
Não há mais “O Pequenino Morto”,
Preso na estante da sala.
Seus versos em liberdade
Passeiam distâncias...
Como fênix o poeta renasce,
Mas não renasce só.
Leva consigo toda uma geração
De seguidores parnasianos,
Fiéis ao ritmo e a métrica...
Vicente, sob a luz da esperança,
Como ninguém, canta o mar...
Lírico, é barco solto, à deriva,
Levado pelas ondas misteriosas,
Na força dos ventos feiticeiros...

E não se cansa de velejar!
 RETRATO

Amélia Luz



Na minha rua
Tem um jasmineiro em flor
Tem ainda de relíquia
Uma preta velha antiga
Com um lenço branco na cabeça
Que no muro se debruça
Para esparramar sentimentos...
Sob a florada cor-de-rosa
Ali, então se deleita, perfeita
Numa tela digna de Portinari.
Ao longe em lembranças contadas,
O som cruel da chibata
Vem ainda atormentar-lhe,
No seu rosto de África,
Escravizado nos laços da cor
E nos gritos de dor segredados no peito!
O poeta sensível, fotografa,
Guardando na sua retina
A beleza estranha desta cena.
Transeuntes de ferro passam,
Alheios ao quadro encantador,
Enquanto emoções se levantam
Na tinta e no papel se encontram
Para registrar em poema
O dia-a-dia flagrado no tema
Guardado no álbum da vida comum
Como parte inesquecível

De mais uma história qualquer!
Menino d’Africa.

Amélia Luz

Menino, cadê a bola? O campinho de futebol,
a pipa empinado sonhos, o céu azul, a passarada,
a alegria da molecada solta nas estradas?
Menino, cadê o rio? O banho com a meninada,
o mergulho, a fieira de peixes, a algazarra das tardes quentes?
Menino, cadê a flauta de bambu entalhado,
Onde entoavas as primeiras notas musicais?
E a perna-de-pau que o fazia crescer brincando de adulto?
O  cavalinho de sabugo, os boizinhos de chuchu,
as gaiolas, as arapucas, o canário grande sempre a cantar?
E a escola menino? A alegria da escola?
As letras, as primeiras escritas, as gravuras,
o alfabeto e a leitura, a vida descortinando mundos?
Tu a soletrar o futuro da tua terra!
Ah... Menino d’Africa, não precisas nem dizer,
das correntes, das tristezas, da fome,
das febres e do abandono cruel,
dos destinos trágicos dos seres,
que a tua raça suporta nos ombros, sem vergar.
Menino-irmão, eu estou do lado de cá do oceano,
clamando pela justiça para que me possas ouvir
no teu silêncio que tanto me incomoda!
Não deixes que a morte te surpreenda
e te leve em sua rede prisioneira!
Alguma coisa falta aos meninos da tua terra...
O sonho, a esperança, o sorriso, a crença maior
de poder viver em paz e fartura,
mesmo que seja ao fundo do teu casebre de barro
 na tua África cabisbaixa e triste,
 tão explorada pela ganância do homem branco!
A pipa que tu empinas levará aos céus
O teu clamor, o teu desespero, a tua súplica.

Do trono o Altíssimo por ti estará a velar, coragem!



Poema: Itália, "Passione"


Amélia Luz

Tempos de lutas e dores
a Itália sofrendo rigores com as penas
dos seus filhos amados...
O sonho de enriquecimento, a América, o Brasil,
o Eldorado esperado, propostas e promessas mil.
O mar bravio, o medo, a viagem, o navio e... segredos!
A ansiedade das famílias que deixam todos
que deixam tudo com o coração em luto
buscando trabalho digno e segurança...
Imigrantes italianos, a saga, a aventura,
no Trópico a luz da esperança...
Inquietos trazem a força como oração
a determinação e o dever a ser cumprido.
Nova pátria, novo chão,
o vinho, o pão servido em nova mesa.
A colonização, os corações entrelaçados
na solidariedade de povos irmãos.
Rostos italianos de profundos olhos azuis
lembrando as cores do Tirreno distante...
Um país abrigando o outro
na mistura do sangue italiano
com a multirraça do Brasil.
Aceitação. trocas, grito e lutas de classes.
É a Itália desembarcando altiva,
soberanamente cunhada
no coração orgulhoso do imigrante,
Marca inapagável da terra-mãe
que traduz desafio e coragem...
Mas, no fundo, "um filo che t'impligia,

il cuore, il pensiero, L'Itália, passione, L'Itália!"



 Ibéria, Histórica Ibéria.

Amélia Luz – Pirapetinga – Minas Gerais – Brasil

Quando o homem recortou a península
Olhando o céu, dividiu as estrelas,
Contemplando o mar soprou as caravelas
Que vazaram as espumas do oceano
Em busca da expansão ultramarina...
Portugal, herói aventureiro das águas.
A Escola de Sagres: “Navegar é preciso!”
Atravessei o Atlântico em caravelas errantes
Conheci Camões, Pessoa e Eça
De quem herdei e falo a língua-mãe!
Na Hispânia convivi com povos guerreiros
Califados e clero em disputas terrenas
Nas lutas enganosas pela fé.
Cristianismo, Islamismo e Judaísmo,
Aromas misteriosos de incenso forte
E brilho de fogo nos olhos dos mouros...
A valentia semítica enfrentando tempestades
Buscando oásis nos montes da Serra Morena
Ou nas planícies da Andaluzia...
Invadidos e invasores nas rotas sangrentas de Leão e Castela,
Raízes latinas que palpitam na minh’alma
Em sombras e clarões, através dos séculos...
Romanos penetrando em centúrias na península
General, o guerreiro Cipião, trazendo na boca o latim,
Plantando a “flor do Lácio” em novo e rico chão.
A força da Península em missão civilizadora,
O Império Colonial Espanhol e Português,
Batizando a América, meu berço, minha origem!
De barro português fui feita: descobridores cobiçosos,
Bravos bandeirantes, feitores, escravocratas,
Algozes capitães do mato, tropeiros, garimpeiros,
Senhores de Engenho, Barões do Café,
Ou pedreiros, padeiros, feirantes,
Mascates, ferreiros ou carapinas!!!
Ibéria, Ibéria, a mediterrânea, olé... olé...
Portugal, Portugal, ultramar e latino,
Dentro do meu coração de além-mar...
Chora o mesmo fado, a canção, o verso,

Na poesia de todo dia, que teima a bater-me à porta...



terça-feira, 18 de julho de 2017

Porto  Alegre  de Poesia Crioula
Amélia Luz


Porto, Porto, que te quero alegre,
No Guaíra a versejar memória crioula
Para que todo teu povo celebre
Tua beleza em grandeza, a transbordar.
Porto, Porto, que te quero alegre,
Meu hino em solo de violino
Meu lema, meu poema,
Minha doce inspiração, meu tema!
Uma família de imigrantes
Uma sala de jantar silenciosa
Um retrato antigo de um herói farroupilha
Dependurado na parede caiada de branco
Cortinas rendadas nas vidraças cristalinas
Vasos de flores-violetas colhidas no jardim!
Cidade acolhedora, eterna,
Tão grande como o Rio Grande.
Nas noites, a lua cheia
Vem beijar-te as águas de prata
Ao som de românticas serenatas
E suaves melodias ...
Porto, Porto, que te quero alegre,
No meu cartão postal imortal
Preso na velha retina
Que teima em lembranças...
A paz se aninha em teus campos
Nas horas de pernas finas
A correrem mansas nas batidas dos carrilhões
Onde teus dias começam em festa
No brilhante azul do sul
No canto do teu coração gaúcho
Explodindo de emoções...
O vento sopra frio e forte!
Para espantar a solidão
O poeta contempla o porto
Que leva e traz esperanças...
O momento é de sublime enlevo
Á sombra da videira com forte cheiro
De tinto/uva a jorrar em jactância!
Um arco-íris brota no verde do horizonte
Entre ecos de poesia, sonhos e fantasia,
Imagens dos teus encantos e recantos inesquecíveis...
Quero outra vez descansar no teu berço
Embriagar-me do teu entardecer

E adormecer para sempre nos laços dos teus braços!


VOZES DO RIO DE JANEIRO

Amélia Luz – Pirapetinga/MG

Esta terra tem muitos segredos
guardados com a chave dos tempos!
Rio é reserva de vida a esbanjar
na fala, no grito, histórias perdidas
no bater repetido das ondas do mar...
A colonização, os jesuítas, a catequização,
a luta negra e as mãos escravas!
Nas suas páginas históricas
recebeu o Rei e a Corte
e pomposas majestades.
Maquiada pela modernidade
mostra a sua face bela com sol, sal, areia e mar,
relíquia dos séculos rodeada de montanhas...
Monumento geográfico natural
reconhecido como tesouro inestimável,
defende-se da sanha comercial
preservando a natureza, seu ninho de beleza.
Rio é tarde no cais, com o chegar dos navios,
é o regresso à terra firme que acolhe hospitaleira.
Acervo de memória através das gerações
que por aqui passaram deixando suas marcas.
E o Cristo Redentor imponente a abençoar a baía
virou de repente uma das Maravilhas do Mundo,
ouvindo a Garota de Ipanema
que continua cantarolando o seu hino imortal
nas passarelas musicais do mundo
guardando um tempo bossanovista
repleto de esperanças num de liberdade
que nasceu no seu berço multicultural,

expressão viva da sensibilidade brasileira.