segunda-feira, 17 de julho de 2017

Luíza, minha mãe

Amélia Luz - Pirapetinga/MG


Quanto silêncio
nesse teu olhar apagado
que a crueza do Alzheimer
levou de ti abruptamente...
Procuro a tua presença viva
a tua liderança na casa
o cheiro da tua comida
e o sabor das sobremesas
servidas no almoço de domingo...
Penso ouvir o teu pedalar
na máquina de costuras,
as roupas que fazias com tanto zelo
para nos agasalhar, ano inteiro...
Lembro-me de ti altiva
e não derrotada, desmemoriada,
envelope vazio sem registros
nem memórias...
Onde andarão as tuas histórias
campeadas na liberdade da fazenda,
palco da tua mocidade?
Mãe, bem sei que tu me conheces o rosto
quando te acaricio bem de leve os cabelos
enquanto ainda podes arrastar os chinelos
da velhice e me acompanhar
pelas últimas caminhadas da tua vida...
O teu olhar acolhedor e indefeso
à luz dos salmos cantam
a poesia crepuscular da despedida
enquanto a tua vida  passa apressada
esperando a carruagem dourada

que a levará para a mansão dos escolhidos.



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