quarta-feira, 19 de julho de 2017

 RETRATO

Amélia Luz



Na minha rua
Tem um jasmineiro em flor
Tem ainda de relíquia
Uma preta velha antiga
Com um lenço branco na cabeça
Que no muro se debruça
Para esparramar sentimentos...
Sob a florada cor-de-rosa
Ali, então se deleita, perfeita
Numa tela digna de Portinari.
Ao longe em lembranças contadas,
O som cruel da chibata
Vem ainda atormentar-lhe,
No seu rosto de África,
Escravizado nos laços da cor
E nos gritos de dor segredados no peito!
O poeta sensível, fotografa,
Guardando na sua retina
A beleza estranha desta cena.
Transeuntes de ferro passam,
Alheios ao quadro encantador,
Enquanto emoções se levantam
Na tinta e no papel se encontram
Para registrar em poema
O dia-a-dia flagrado no tema
Guardado no álbum da vida comum
Como parte inesquecível

De mais uma história qualquer!

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