quinta-feira, 26 de abril de 2018

ENTREVISTA

AMÉLIA LUZ – Pirapetinga, MG.
480 – 2 de MARÇO de 2013.

Amélia Luz – Pirapetinga/MG – Escreve contos, crônicas e poesias com várias premiações. É formada em Pedagogia – Administração Escolar e Magistério – Orientação Educacional – Comunicação e Expressão em Língua Portuguesa, Pós graduada em Planejamento Educacional e Psicopedagogia na Escola.

É Membro Efetivo da APLAC – Academia Paduana de Letras, Artes e Ciências/Sto. Ant. de Pádua/RJ, Membro Correspondente da Academia Rio – Cidade Maravilhosa – Rio de Janeiro, Membro da Academia Cachoeirense de Letras – Cachoeiro de Itapemirim/ES, Membro Correspondente da Academia de Letras Brasil – Mariana e InBrasCi/MG, Membro Correspondente da Academia Brasileira de Poesia – Casa Raul de Leoni – Petrópolis/RJ, Membro Correspondente da Academia Friburguense de Letras – Nova Friburgo/RJ, Membro da Academia Ferroviária de Letras – Rio de Janeiro, Membre du Cercle Universel des Ambassadeurs dela Paix– Geneve/Suisse, Membre de L’Academie du Mérite et Dévouement Français – Paris/França e outras entidades literárias. Participa de muitas antologias com premiações em vários concursos literários no Brasil, Portugal, Espanha, Itália e França. Tem um livro solo “Pousos e decolagens” e outros em construção.
SELMO VASCONCELLOS – Quais as suas outras atividades, além de escrever?
AMÉLIA LUZ – Hoje, aposentada dedico-me a cuidar da família, sobretudo minha mãe, 95 anos, vítima de Alzheimer há dez anos. É um bebê que precisa de todos os meus cuidados. Sou a única cuidadora: missão de Deus.
Depois, a leitura, a pesquisa, o comprometimento diário com a Literatura. Gosto de viajar, assistir a bons filmes e visitar ambientes culturais.
SELMO VASCONCELLOS – Como surgiu seu interesse literário?
AMÉLIA LUZ – Desde criança tinha atração pelas letras. Depois a Escola Primária veio despertar ainda mais esse interesse. Era míope e pouco ligada a brincadeiras com a turma. Tinha um vizinho, Sr. Aurélio Tomasco, Coletor Estadual de Minas Gerais que tinha um bom acervo literário.
Era tudo que eu precisava. Ali encontrava um mundo ao alcance dos meus olhos. Da leitura posso dizer eu me fiz pessoa!
SELMO VASCONCELLOS – Quantos e quais os seus livros publicados?
AMÉLIA LUZ - Tenho um livro de poesias publicado ” Pousos e Decolagens”. Prefiro publicar em antologias que eu creio estar perto de mais de uma centena de publicações. Assim, eu trago e divulgo muitos escritores e eles também levam os meus trabalhos para lugares distantes e me divulgam.
Sempre sou surpreendida por uma observação de alguém que leu o meu trabalho.
Faço amigos, participo de lançamentos e me farto de alegrias nesse saudável ambiente onde aprendo muito. Tenho publicações em vários estados do Brasil, Portugal, Espanha, Itália, França e este anos terei em Angola, Bélgica e no Chile.
SELMO VASCONCELLOS – Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesias?
AMÉLIA LUZ – Uma imagem, um som, um pensamento, uma lembrança, uma pa-la-vra!!! A palavra é mágica e desencadeia emoções que me levam a produzir o texto. Um caderninho de anotações, uma perdida folhinha de papel, um guardanapo ou quem sabe até mesmo o notebook. Assim apanho os versos na palma das mãos.
O silêncio da noite me comove e me deixa em “estado de graça poética”.
Puxo o fio de Ariadne… Quem sou??? Nem sei!!! Perdi-me dentro de mim para encontrar a poesia. É indescritível viver isso com tamanha intensidade. Tudo vem de dentro para fora em jactância.
SELMO VASCONCELLOS – Quais os escritores que você admira?
AMÉLIA LUZ - Como citá-los se são tantos??? Deixo então o meu Mestre Maior o João Guimarães Rosa e também o meu poeta conterrâneo, mineiro que enxerga por cima das montanhas, Carlos Drummond de Andrade.
SELMO VASCONCELLOS – Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?
AMÉLIA LUZ - O verdadeiro poeta não precisa de incentivo. A poesia por si mesmo irá incentivá-lo! Depois que tomar verdadeiramente o caminho dos versos já não haverá retorno. Embriagado de metáforas seguirá cambaleante em busca do reino encantado onde vivem os poetas. A leitura é a fonte de água viva que precisará sempre.
AMAZÔNIA
Amélia Luz
O tropel do homem assustou a floresta!
A ambição cruel campeou pela mata
fazendo dela o túmulo frio da terra-mãe!
O poeta gritou em trovão por Tupã
que na sua ira de deus,
incendiou com um relâmpago
os olhos cegos que dormiam…
Quero ver salva e protegida
minha Amazônia querida,
patrimônio universal,
útero da natureza,
com toda a sua riqueza!
Relíquia ameaçada
pelas serras sanguinárias
que se embriagam de seiva pura,
ao gemido de árvores milenares…
Vejo neste santuário sagrado
a agonia ambiental de um planeta doente
vítima da violência insana
do desmatamento inconsequente.
Soluço um pranto rouco
clamando pela preservação!
Ao homem louco do meu tempo
deixo um manifesto.
Que lute com peito aberto, como protesto,
antes que seja tarde e tudo se perca!
*****
E por Falar em Maria
Amélia Luz
Maria Rosa
Maria prosa
Maria fogosa
Maria manhosa
Maria Flor.
Maria do fogo
Maria do jogo
Maria do gozo
Do corpo dengoso,
Tocha viva de amor…
Maria mania
Maria da vida
Maria bandida
Maria da lama
Maria da cama
Maria assanhada
Maria mascarada
Do pandeiro e tamborim,
Sem saber do seu fim…
No Bloco dos Sujos
Sambando, gingando,
Alegria! Alegria!
Tudo é fantasia
Tudo é carnaval!
Maria do choro
Do gole, da fome,
Maria sem nome
Cansada, apagada,
Andando sem rumo
Ardendo em ressaca.
Maria das Cinzas,
De tantas tristezas…
A folia acabou
E você não se tocou
Que o seu nome Maria,
É nome divino
É nome de graça
De santa pureza
De tanta riqueza
De virgem e altar!
*****
FILOSOFANDO
Amélia Luz – Pirapetinga/MG
O vendaval passou pela cabeça do filósofo…
Suas idéias saíram livres, giratórias,
quais folhas de papel ao sabor do vento!
Achadas assim ao acaso foram lidas
conservadas, discutidas, ensinadas,
violentadas, desenvolvidas, repudiadas!
Surpreso, como um servo, voltou ao seu trabalho,
de profundas reflexões esperando novos ventos
que assanhassem novos pensamentos
capazes de arrombar as portas do mundo
através do silêncio misterioso das bibliotecas…
Histórias viajaram para todos os lados
textos invadiram a nossa lucidez
mostrando as misérias da tragédia humana…
O monólogo interior, o questionamento,
ou a questão da vida por si mesma
à procura de novos ângulos que nos permitissem
a explicação da nossa solidão existencial!
Inquietos Aristóteles e Platão dialogavam,
deitados num mesmo divã numa sala de Viena,
tentando desvendar os mistérios da mente humana!
*****
MULHER
Amélia Luz – Pirapetinga/MG
Desato o nó do avental, nada mal,
sou mulher com ideias em vendaval…
Deixo o fogão, a frigideira, a prisão,
saio na contramão fazendo a minha liberdade!
Num grito,num gesto, num manifesto
deixo de lado a casa, o pó, a servidão
sou agora um novo modelo em ascensão.
Utilizo cosméticos sofisticados,
em bom tom sou balzaquiana avançada,
ou ingênua, tímida, provinciana,
mulher doidivana conquistando mundos.
Sou cidadã, cortesã, discreta, concreta,
tenho Brazão de Portugal, sou prima do rei,
tenho até impressão digital.
Como o sexo oposto sou, superior e forte!
Piloto avião com as forças do meu coração,
sou atuante, executiva, participante.
Tomo cerveja, minh’alma sobeja,
divido o pão de mão em mão!
Batalho na linha de frente, posso até ser presidente.
Voto, tenho carta de motorista,
tenho visto em passaporte decidindo a minha sorte.
Assim, voo para o sul, voo também para o norte,
manobro na “gentil pátria amada” em missão partilhada
seguindo a força do meu tempo!
Mulher, afinal, ser ou não ser, querer e poder,
questão, resposta, solução proposta?
Encorajar, viver, criar asas, ser forte como o nascer…
Ser delicada amante, amada, submissão sem algemas,
ser sobretudo, mulher!
*****
Procura
Pseudônimo: Capitu
Procuro o espelho
a imagem-miragem,
o vestido vermelho,
o perfume de malva
e o carmim na pele alva…
Procuro a anágua de renda,
o velho livro de lenda,
o homem de branco,
o rosto, o jogo
e o olhar de fogo!
Procuro a pintura
a enfeitar envelhecidas paredes…
Procuro a canastra de sedas
a preciosa cesta de costuras
o crivo, o matiz, o bordado,
o tempo guardado em retalhos de vida…
E o vestido vermelho,
dependurado, mudo, agora desbotado,
roto, puído, rasgado,
surrado pelos maus tratos da lida,
continua contando histórias perdidas…
Na minha solidão,
procuro o trilho, o caminho,
e a volta ao encantado ninho…
Vejo tuas mãos envelhecidas
ansiosas buscando as minhas,
lembro então teus suaves carinhos…
E a cadeira de balanço, vazia,
continua noite adentro,
embalando os nossos sonhos…




Nenhum comentário:

Postar um comentário