Menino d’Africa.
Amélia Luz
Menino, cadê
a bola? O campinho de futebol,
a pipa
empinado sonhos, o céu azul, a passarada,
a alegria da
molecada solta nas estradas?
Menino, cadê
o rio? O banho com a meninada,
o mergulho, a
fieira de peixes, a algazarra das tardes quentes?
Menino, cadê a
flauta de bambu entalhado,
Onde entoavas
as primeiras notas musicais?
E a
perna-de-pau que o fazia crescer brincando de adulto?
O cavalinho de sabugo, os boizinhos de chuchu,
as gaiolas,
as arapucas, o canário grande sempre a cantar?
E a escola
menino? A alegria da escola?
As letras, as
primeiras escritas, as gravuras,
o alfabeto e
a leitura, a vida descortinando mundos?
Tu a soletrar
o futuro da tua terra!
Ah... Menino
d’Africa, não precisas nem dizer,
das correntes,
das tristezas, da fome,
das febres e
do abandono cruel,
dos destinos
trágicos dos seres,
que a tua
raça suporta nos ombros, sem vergar.
Menino-irmão,
eu estou do lado de cá do oceano,
clamando pela
justiça para que me possas ouvir
no teu
silêncio que tanto me incomoda!
Não deixes
que a morte te surpreenda
e te leve em
sua rede prisioneira!
Alguma coisa
falta aos meninos da tua terra...
O sonho, a
esperança, o sorriso, a crença maior
de poder
viver em paz e fartura,
mesmo que
seja ao fundo do teu casebre de barro
na tua África cabisbaixa e triste,
tão explorada pela ganância do homem branco!
A pipa que tu
empinas levará aos céus
O teu clamor,
o teu desespero, a tua súplica.
Do trono o
Altíssimo por ti estará a velar, coragem!
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